Ney Matogrosso e Psi Analítica
- evandro melo
- 26 de mai.
- 2 min de leitura

Um dos shows que mais me impactaram na vida foi ver Ney Matogrosso, na época já com uns 77 anos. Gostei tanto que repeti a dose anos depois, quando ele estava com uns 80, e ainda presenteei meus pais para que também fossem assistir.
E agora foi a vez de ir ao cinema assistir o filme ‘Homem com H’, que conta sua biografia. Ney é patrimônio nacional, e que bom que pôde receber, em vida, uma homenagem como esse belo filme.
Sob o olhar da psicologia Analítica, alguns momentos me chamaram a atenção para uma rápida reflexão. Vamos lá:
A vida de Ney é marcada por um rígido e violento controle, vindo de seu pai, tolhendo-lhe a criatividade artística que desde muito cedo se mostrava presente. Junto ao controle excessivo, houve a resistência corajosa dele de enfrentar seu pai e pagar alto por isso. Até que, no início da fase adulta, ele sai de casa e rompe com aquele ciclo.
Ainda que tenha tido alta dose de rebeldia, dá para observar a força do complexo paterno presente. Um dos primeiros atos de rebeldia de Ney, foi se alistar na aeronáutica, se dedicar e ser um dos melhores soldados do batalhão. Interessante ressaltar que o pai dele era militar, e seu ato ao mesmo tempo que demonstra querer se afastar, faz algo que os une.
A rebeldia ainda segue o controle do pai, quer mostrar que não se importa, justamente se importando. Observo isso na clínica e em todo lugar, com gente que diz algo como ‘vou mostrar pra ele(a) que eu não me importo com ele(a)’.
Outra observação é quanto às compensações, seja nos excessos vividos para compensar uma vida de repressão, e em muitos momentos, sem tomar consciência e se colocar em perigo, ou a repressão sendo vencida com os excessos artísticos, esses sim, provocativos, que visam chocar, e chocam, mas de forma segura a si e aos outros.
Ney viveu ambos, e é no palco que ele sublima toda repressão de forma única. Como apresentado no filme, Ney diz que o palco é a sua máscara. É na arte que Ney veste sua persona que o salva. O salva do passado repressor e violento, o salva de implodir em sofrimento, o salva de um repertório simbólico imenso e pulsante que, se não extravasa, o sufoca.
Nise da Silveira diz que “Os artistas e os loucos mergulham nas mesmas águas, mas os artistas voltam”. Diferente de outros artistas que sucumbem em si, Ney é o exemplo de quem mergulhou fundo, se encontrou com suas sombras e demônios, mas ao invés de se afogar, fez com eles parcerias e emergiu. Ney é gigante.
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